O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

O "terrorista" !


Cheguei a Portugal no fim de Agosto, há dois anos atrás. Era meia-noite, no aeroporto havia muita gente, todos à espera dos amigos, familiares, das pessoas queridas ou pessoas especiais. Estava cansada e hesitante num país que eu visitava pela primeira vez e fiquei muito feliz quando eu vi o rosto caro do meu marido, que me esperava no meio das pessoas.

Era noite quando eu vi Lisboa pela primeira vez. Tenho até na minha memória luzes, prédios, vitrinas luminosas das lojas, carros e ... o impressionante Cristo- Rei!

No dia seguinte saí com o meu marido, encontrámo-nos com os amigos moldavos e portugueses, fomos ao futebol, tomámos café no pequeno restaurante indiano perto da nossa casa. Eu ouvi falar português em todo o lado, um português diferente daquele que eu tinha estudado um pouco antes de vir para Portugal. A língua de Camões dos livros parecia-me totalmente diferente da língua falada na rua. Eu ouvia com muita atenção mas percebia pouco do sentido geral da conversa. No entanto, o desconhecimento da língua não foi para mim um impedimento, eu senti- me à vontade com todos os amigos portugueses e moldavos e nem me apercebi como passou o tempo e acabou o fim de semana. Foi ótimo, uns dias com muitas impressões, muitas pessoas que eu vi primeira vez e não tive tempo para memorizar bem todas as caras. Veio a segunda-feira e o meu marido teve que ir para o trabalho; eu fiquei sozinha em casa. Mas, antes de sair de casa ele lançou-me uma provocação: ir à procura duma pastelaria para comprar bolinhas: “Se quiseres comprar alguma coisa, tens que dizer à empregada de balcão o que queres comprar e não te esqueças de “se faz favor”. Para os portugueses essa é uma expressão muito importante. Tens que falar só português, não inglês, é assim que vais aprender mais rapidamente a língua! ” Ele sabia que, como tinha chegado há dois dias a Portugal e não conhecia ninguém, não conhecia a língua, não teria coragem de sair desacompanhada e era só dessa maneira que me podia convencer a sair de casa.

Venci o medo, saí de casa, procurei a pastelaria mais próxima e comprei bolinhas, não esquecendo o “se faz favor”. Saindo da pastelaria estava tão feliz, passei a prova “com brio”, fiz a minha primeira compra em Portugal. Estava muito bom tempo e eu decidi passear um pouco. O medo da manhã desapareceu, eu sentindo-me à vontade numa sociedade que, umas horas antes, me assustava. Num momento observei alguém a seguir-me e quando chegou ao meu lado disse “Olá” com um sotaque estranho, estrangeiro. Fiquei surpreendida e vi um homem que parecia indiano, paquistanês ou outra nacionalidade similar. A cara dele não me pareceu conhecida e eu continuei a passear sem lhe dar grande atenção. Mas ele repetiu: “Olá”. O medo reapareceu, sentia-me assustada perto daquele homem que não conhecia e que tinha repetido duas ou três vezes “Olá” e falando algo numa língua muito, muito má, metade português metade outra língua que eu não conhecia. Eu não percebia nada, o medo cresceu, durante uns segundos na minha cabeça passaram mil pensamentos sobre quem é que podia ser aquele indivíduo: ladrão, agressor, maníaco e finalmente … terrorista!!! Comecei a avançar mais depressa na direção de casa mas ele continuou a seguir-me, a falar, a repetir palavras que eu não percebia, a gesticular...

Liguei para o meu marido, estava assustada, expliquei que um terrorista estava a seguir-me, ele queria alguma coisa, eu não sabia o quê, não percebia nenhuma palavra, ele estava muito insistente, falava, gesticulava e eu tinha medo… O meu marido aconselhou-me a acalmar-me, a tentar perceber o que ele estava a dizer. Naquele momento, para mim, era impossível agir com calma e tentar ouvir o discurso do terrorista: ainda bem que estava perto da porta do meu prédio, abri logo e entrei.

Passaram uns dias, saí para tomar café com o meu marido e os amigos no restaurante indiano ao lado. Estava sentada na mesa, calma e, de repente, vejo … o terrorista trazia o meu café! Começámos os dois a explicar, a gesticular surpreendidos e no final ouvi o riso forte do marido… O maior terrorista do mundo daquele dia, para mim era o empregado de mesa do restaurante indiano ao pé de casa! O homem só queria dizer que me conhecia, conhecia bem o meu marido e tentava explicar isso enquanto eu fugia assustada e aterrorizada. A causa de toda esta confusão era muito simples: nem eu, nem ele sabíamos a língua portuguesa!

É por isso que eu nunca deixo de estudar a língua deste país, não quero encontrar mais terroristas!

Rodica Tepordei
(Formanda da Moldávia)

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