Roman Polanski deu-nos, neste ano de  2010, mais um bom exemplo da sua inteligência e mestria, quer como  argumentista quer na muito depurada economia narrativa e cinematográfica  do seu "
The Ghost Writer".
 Adam  Lang (Pierce Brosnan), antigo primeiro ministro britânico, pretende  publicar as suas memórias políticas e após a misteriosa morte do primeiro escritor oficial das suas memórias, contrata "The Ghost" (Ewan  McGregor). Nas vésperas da publicação e permanecendo em território  norte-americano, Adam Lang é indicado como suspeito de crimes de guerra  no âmbito da luta contra o terrorismo. É então que "The Ghost" vê-se,  para seu próprio espanto, no meio de uma teia conspirativa que envolve e  implica os meandros do poder e da política internacional.
Muito  mais interessante do que qualquer paralelismo que se possa estabelecer  entre os personagens do filme e políticos recentemente em actividade,  sobretudo Adam e Ruth Lang (Olivia Williams); o que demonstra a mestria  de Roman Polanski e a qualidade de "The Ghost Writer" é, em boa  verdade, a forma como um personagem de quem nada se sabe - quem é? com  quem vive? que passado? -  é colocado no núcleo do  que Polanski nos quer dizer.
The Ghost,  magistralmente composto por Ewan McGregor num registo de contenção e  absoluta simplicidade, é o símbolo de uma sociedade alicerçada na  indiferença, na formatação e na incapacidade de fugir do papel de  figurante perante o poder e as suas idiossincrasias.
Resta  a esta sociedade contemplar, com espanto, a manipulação e o abismo entre a  imagem/representação do poder e a realidade dos pequenos grandes  embaraços, que acabam por revelar as suas inconsistências e  fragilidades.
José Fernando Vasco