Livro disponível na BE/CRE
“Na montra de uma loja de artigos de pesca, aberta recentemente, a presença dos inúmeros modelos de cana de pesca expostos, de súbito, fez-me pensar no meu avô. Apeteceu-me comprar-lhe uma. Em destaque na montra, uma delas era um modelo de importação composto por dez elementos em fibra de vidra. Não percebi muito bem se era a cana de pesca ou a fibra que era importada , nem sequer em que é que aquela cana era melhor do que as outras. As dez partes encaixavam-se umas nas outras e acabavem por se arrumar num último tubo, de cor preta. Na extremidade deste, um punho em forma de coronha de pistola, no qual estava fixado um carreto. Parecia um revólver de canhão alongado ou uma Mauser último grito. Certamente o meu avô nunca tinha visto uma mauser e, mesmo em sonho, nunca poderia imaginar que pudesse existir uma cana de pesca como esta. As dele eram todas em bambu e nunca tinha comprado nenhuma. Ele próprio as fabricava, passando pelo fogo os troncos de bambu curvados que encontrava não sei onde."
Constituída por seis contos, esta obra retrata a infância de Gao Xingjian, as alegrias simples do amor e da amizade, a terra natal e os seus lugares familiares, mas também os dramas da rua ou as tragédias vividas pela China. Nascido na China em 1940, mas a viver em França desde 1988, este romancista, pintor, dramaturgo, encenador, crítico literário, poeta e tradutor sobretudo das obras de Samuel Beckett e Eugène Ionesco, foi agraciado com o Nobel da Literatura de 2000, por "uma obra de valor universal, de uma lucidez amarga e uma ingenuidade linguística que abriram novos caminhos para o romance e o teatro chineses".
Bárbara Nabais
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