O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

«A saúde é uma construção diária, na qual todos devem ter um papel ativo!»


Maria Isabel Silva Reis, diretora médica na Clínica Pediátrica REFLIC, esteve ontem na BECRE e, durante cerca de uma hora, dialogou com os formandos EFA (B3 e S-Escolar) em torno das questões da saúde - conceito, atitudes e práticas.
Reiterando a importância das três dimensões - física, psíquica e social - da Saúde, defendeu que é «uma construção diária», na qual todos - indivíduos e profissionais - devem ter uma postura ativa.

A prática médica não se pode reduzir à mera prescrição de receituário. Os profissionais da Saúde devem trabalhar com os cidadãos na mobilização em torno da alteração de hábitos, só possível com a devida compreensão das situações e com o reforço  motivacional para a alteração de comportamentos de risco e a adoção de práticas saudáveis diárias. Articulado com a saúde infantil e juvenil, o diálogo com a plateia centrou-se em torno de múltiplas questões, nomeadamente, hábitos alimentares e comportamentos sexuais e outros. A mudança de atitudes e comportamentos dos mais velhos possibilita igualmente um mais eficaz acompanhamento e supervisão do crescimento saudável dos mais novos.

Divulgam-se os dados estatísticos relativos à avalição da atividade:


Artigos relacionados:
José Fernando Vasco

Vídeo-poema XIII: «As mãos» de Manuel Alegre

«As mãos»

Poema:
Manuel Alegre

Declamado por:
Manuel Alegre




«Este poema de Manuel Alegre simboliza a esperança pela Liberdade e foi cantado por  Adriano Correia de Oliveira. O cantor era um amigo do poeta e companheiro das lutas estudantis em Coimbra.
Anos antes, o convívio entre os dois possibilitou a criação de um  poema-cantiga que ficou na história da resistência à Ditadura. Conta-se que numa noite, em plena Praça da República em Coimbra, Manuel Alegre exprimia a sua revolta: «Mesmo na noite mais triste/ Em tempo de servidão/ Há sempre alguém que resiste/ Há sempre alguém que diz não».
E Adriano Correia de Oliveira disse «mesmo que não fiquem mais versos, esses versos vão durar para sempre». Ficaram. António Portugal compôs a música .  «E depois o poema surgiu naturalmente». Tinha nascido a Trova do vento que passa. 
Três dias depois vieram para Lisboa, para uma festa de recepção aos alunos na Faculdade de Medicina. Manuel Alegre fez um discurso emocionado, depois Adriano Correia de Oliveira cantou e quando acabou de cantar: «foi um delírio, teve de repetir três ou quatro vezes, depois cantou o Zeca, depois cantaram os dois. Saímos todos para a rua a cantar. A Trova do vento que passa passou a ser um hino».

Fonte:



Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Artigos relacionados:
BECRE/Poesia
José Fernando Vasco

«Interturmas de Voleibol 4x4»

Vai realizar-se na nossa escola dia 31 de Outubro, o “Torneio inter-turmas de voleibol do 10ºano”, entre as 14.30h e as 17.00 horas. Esta atividade tem como objetivos desenvolver todas as competências dos alunos do Curso Tecnológico de Desporto, fomentar o gosto pela prática da atividade física, bem como o convívio, o fair-play e a promoção do desporto escolar.

Turma 12ºG
(Curso Tecnológico de Desporto)

«Saúde infantil e juvenil» na BECRE para formandos EFA

Maria Isabel Silva Reis, médica pediatra, estará na próxima segunda feira, pelas 20:00 horas, na BECRE para partilhar com formandos de cursos EFA B3 e Secundário Escolar a sua vasta e rica experiência profissional na área da saúde infantil e juvenil.
A visita da nossa convidada é especialmente relevante dado que os referidos formandos estão a estudar o tema e a elaborar trabalhos no âmbito de unidades de formação de curta duração (UFCD) nas áreas da «Cidadania e Empregabilidade»,  «Cultura, Linguagem e Comunicação» e «Sociedade, Tecnologia e Ciência».

José Fernando Vasco
Miguel Almeida


«O processo criativo no Design Gráfico» na BECRE

José Carlos Campos, diretor criativo executivo da STRAT, estará na próxima segunda feira na BECRE, pelas 14:15 horas, para um encontro com os alunos do Curso de Técnico de Design Gráfico. A influência exercida pela criatividade no processo produtivo do design gráfico e a percepção de como se trabalham, inicialmente, conceitos em design gráfico - com o intuito de definir a sua real função - serão certamente algumas das temáticas abordadas. A não perder no dia 5 de novembro.

Hiperligação:
José Fernando Vasco
César Torres

«Portugal, portugueses: uma identidade nacional» por José Manuel Sobral

Disponível para consulta na BECRE
a partir de 26.10.2012

«Portugal é uma nação. A sociedade portuguesa, como qualquer outra, é uma sociedade profundamente dividida pelas linhas de classe, mas também pelas do género, associadas a assimetria de poder. Também está estruturada por outros factores de diferenciação, como os relativos à crença religiosa, aos valores geracionais, às clivagens políticas, em alguns casos às identificações regionais.

Ser português é reconhecer-se como parte de um colectivo que não se sobrepõe, antes coexiste com todas essas diferenças e os conflitos que lhes são inerentes.» (p. 17-18)

Índice:
  I - Identidade nacional, identidade individual e história
 II - Lusitanos e portugueses: reivindicações e polémicas em torno da antiguidade da nação
III - A construção do Estado e a génese da nação
IV - Identidades e narrativas nos tempos do império
 V - Ubiquidade do nacionalismo e «nacionalização das massas»: Portugal nos últimos três séculos
VI - Aspectos da identidade nacional no presente
Guia Bibliográfico
Índice Remissivo

Um ensaio importante num momento importante para a reflexão sobre o nosso futuro enquanto comunidade nacional.

Artigos relacionados:
«A Ciência em Portugal» por Carlos Fiolhais
«A Matemática em Portugal: uma questão de educação» de Jorge Buescu
«Difícil é educá-los» por David Justino
«O ensino da História» segundo Gabriel Mithá Ribeiro
«O Ensino do Português» de Maria do Carmo Vieira
«Filosofia em Directo» por Desidério Murcho
«Forças Armadas em Portugal» de José Loureiro dos Santos

Hiperligações:
Fundação Francisco Manuel dos Santos
Pordata

Outros títulos da mesma coleção e disponíveis para consulta na BECRE







José Fernando Vasco

Ana Teresa Pereira vence o Grande Prémio de Romance e Novela 2011


«A Associação Portuguesa de Escritores (APE) atribuiu o Grande Prémio de Romance e Novela 2011 a Ana Teresa Pereira pela obra «O Lago». Ana Teresa Pereira, Maria Teresa Horta, Mário Cláudio, Nuno Júdice e Teolinda Gersão foram os cinco finalistas, das 103 candidaturas apresentadas (só uma vez este número foi ultrapassado). O júri foi constituído por Luísa Mellid-Franco, José Manuel Vasconcelos, Manuel Gusmão, Manuel Simões e Silvina Rodrigues Lopes, e presidido por José Correia Tavares.


Sobre «O Lago», Manuel de Freitas escreveu no Atual, de 28 de Janeiro: «Aos que pudessem achar que a escrita da autora se estava a enredar de modo quase previsível nas suas próprias obsessões, O Lago vem provar que não é exatamente assim. O deserto cresce, confundindo-se com a neve, e a trama deste livro resume-se ao encontro entre um dramaturgo/autor e uma “dançarina ferida” que, ao tornar-se atriz e amante do primeiro, se coloca à mercê de um deus sinistro, alguém que só podia amar “um ser criado para ele” e que “não separa o palco da vida”
Ana Teresa Pereira é autora de uma vasta obra ficcional, desdobrada em romance, novela e conto. O policial, o western e o juvenil são géneros que tem regularmente frequentado (o seu primeiro livro, Matar a Imagem (1989), foi publicado ao vencer o Prémio Caminho Policial).
A obra de Ana Teresa Pereira foi elogiada por críticos como Eduardo Prado Coelho, António Guerreiro e Manuel de Freitas. Em 2005 recebeu o Prémio Pen Club Português de Ficção, por Se Nos Encontrarmos de Novo, e em 2007 o Prémio Máxima de Literatura por A Neve...»

Fonte:
Relógio d'Agua


Obra de Ana Teresa Pereira
disponível para consulta na BECRE


José Fernando Vasco

«O ensino da História» segundo Gabriel Mithá Ribeiro

Disponível para consulta na BECRE
a partir de 25.10.2012

O vigésimo oitavo volume da coleção «Ensaios da Fundação» é dedicado ao ensino da História, «disciplina-barómetro na aferição das grandes tendências do ensino» (p. 15).
Segundo Gabriel Mithá Ribeiro, «a disciplina vive [...] numa ambiguidade que lhe é prejudicial. Hesita entre ensinar o passado propriamente dito ou ensinar o domínio de técnicas que permitam aos estudantes do ensino básico e secundário reconstruírem, eles próprios, o passado. A solução passa por se assumir, nos domínios pedagógico e didáctico, que a missão principal do ensino não superior é a de divulgar um saber histórico já estruturado à generalidade dos indivíduos e não propriamente a ambição de criar uma miríade de potenciais pequenos historiadores.» (p. 103)

Índice:
Introdução.
1. Ideologia e vida colectiva
2. A ingenuidade ideológica
3. Herança revolucionária e cristalização democrática
4. Fechar a porta da sala de aula e o portão da escola
5. Ensino e senso comum
6. A função social da História
7. Pequenas e importantes marcas de sala de aula: memória e história; alunocentrismo e aula expositiva; cultura estudantil; a sacrossanta fonte histórica; a extensão dos programas; dialéctica passado/presente; Área de Integração.
Epílogo

Elucidativo! Uma leitura a não perder!


...........................................................................

Artigos relacionados:
«A Ciência em Portugal» por Carlos Fiolhais
«A Matemática em Portugal: uma questão de educação» de Jorge Buescu
«Difícil é educá-los» por David Justino
«O Ensino do Português» de Maria do Carmo Vieira
«Filosofia em Directo» por Desidério Murcho
«Forças Armadas em Portugal» de José Loureiro dos Santos

Hiperligações:
Fundação Francisco Manuel dos Santos
Pordata

Outros títulos da mesma coleção e disponíveis para consulta na BECRE







José Fernando Vasco

«O Silêncio da Musa» de Maria Amélia Cortes

 Fonte: Scala

Disponível para consulta na BECRE (2 exemplares)
graças à oferta da Assoc. Professores Concelho de Almada e da associação cívica "O Farol".

«A poesia de Maria Amélia Cortes é metamorfose em pássaro, quiça gaivota ou garça, que sequiosos bebem da alma da poetisa. Saciam-se e adormecem. Ler a poesia de Maria Amélia é passear por um linda paisagem onde as letras se vão transformando à medida dos olhos que a percorrem sorrindo.»

Fonte: contracapa

José Fernando Vasco

23º Amadora BD - «Autobiografia»

O 23º Festival Internacional de  Banda Desenhada - Amadora BD - realiza-se entre 26 de outubro e 11 de novembro, na cidade de Amadora.

Para aceder ao programa, clicar aqui.


Hiperligações:
Design Gráfico_ESCTAmadora BD
Facebook/Amadora BD





José Fernando Vasco

Orquestra Gulbenkian: 50 anos ao serviço da cultura

Assinalando os 50 anos de existência da Orquestra Gulbenkian, recorda-se uma gravação do 2º movimento do Concerto para piano n.º 1 de Fryderyk Chopin, sob a direção de Lawrence Foster e com Sa Chen ao piano.



Hiperligação:

José Fernando Vasco

««Belleville Rendez-Vous» de Sylvain Chomet

Disponível para consulta na BECRE

«Belleville Rendez-Vous» conta a história do pequeno e melancólico Champion, que é educado pela avó, Madame Souza, para vir a ser um grande ciclista. Mas um dia, anos mais tarde, Champion, que está a participar no celebérrimo Tour de France, é raptado por dois misteriosos homens vestidos de negro. A avó e o fiel cão Bruno partem então à sua procura, numa viagem que os leva até o outro lado do oceano, até Belleville, onde encontram as "triplettes", excêntricas estrelas do music-hall dos anos 30 que decidem ajudar Madame Souza e o cão.»



Realizador: Sylvain Chomet
Ano de produção: 2003
Intérpretes (vozes): Béatrice Bonifassi, Lina Boudreault, Michèle Caucheteux, Jean-Claude Donda, Mari-Lou Gauthier, Charles Linton, Michel Robin, Monica Viegas.


Prémios e nomeações:

* Seleção oficial do Festival de Cannes 2003
* Óscares 2004 - 2 Nomeações Melhor Filme de Animação e Melhor Canção
* Melhor Filme de Animação Críticos de Nova Iorque, Los Angeles, Seattle e San Diego
* Césars do Cinema Francês 2004: 3 nomeações - Melhor Filme, Melhor 1ª Obra e Melhor Música

Imprensa:

* Uma pérola de arte do desenho animado. Miúdos e, sobretudo, graúdos hão-de deliciar-se. (Jorge Leitão Ramos, Expresso)

* O humor de Tati combinado com o absurdo dos Monty Python. Uma sucessão de acados narrativos e visuais. É magnífico. (Jorge Mourinha, Blitz)

Trailer:


Hiperligação:

José Fernando Vasco

Vídeo-poema XII: «Tabacaria» de Álvaro de Campos, por Mário Viegas

«Tabacaria»

Poema:
Álvaro de Campos

Declamado por:
Mário Viegas




Parte 1/2


Parte 2/2



Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. 

Janelas do meu quarto, 
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é 
(E se soubessem quem é, o que saberiam?), 
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, 
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, 
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, 
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, 
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, 
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. 

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. 
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, 
E não tivesse mais irmandade com as coisas 
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua 
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada 
De dentro da minha cabeça, 
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. 
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo 
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, 
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. 

Falhei em tudo. 
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. 
A aprendizagem que me deram, 
Desci dela pela janela das traseiras da casa, 
Fui até ao campo com grandes propósitos. 
Mas lá encontrei só ervas e árvores, 
E quando havia gente era igual à outra. 
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar? 

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! 
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! 
Génio? Neste momento 
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, 
E a história não marcará, quem sabe?, nem um, 
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. 
Não, não creio em mim. 
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! 
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? 
Não, nem em mim... 
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo 
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? 
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - 
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, 
E quem sabe se realizáveis, 
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? 
O mundo é para quem nasce para o conquistar 
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. 
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. 
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, 
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. 
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, 
Ainda que não more nela; 
Serei sempre o que não nasceu para isso; 
Serei sempre só o que tinha qualidades; 
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta 
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, 
E ouviu a voz de Deus num poço tapado. 
Crer em mim? Não, nem em nada. 
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, 
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. 
Escravos cardíacos das estrelas, 
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; 
Mas acordámos e ele é opaco, 
Levantámo-nos e ele é alheio, 
Saímos de casa e ele é a terra inteira, 
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. 

(Come chocolates, pequena; 
Come chocolates! 
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. 
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come! 
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! 
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, 
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) 

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei 
A caligrafia rápida destes versos, 
Pórtico partido para o Impossível. 
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, 
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro 
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, 
E fico em casa sem camisa. 

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, 
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, 
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, 
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, 
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, 
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, 
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -, 
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado. 
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco 
A mim mesmo e não encontro nada. 
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. 
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, 
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, 
Vejo os cães que também existem, 
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, 
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) 

Vivi, estudei, amei, e até cri, 
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. 
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, 
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses 
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); 
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo 
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente. 

Fiz de mim o que não soube, 
E o que podia fazer de mim não o fiz. 
O dominó que vesti era errado. 
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. 
Quando quis tirar a máscara, 
Estava pegada à cara. 
Quando a tirei e me vi ao espelho, 
Já tinha envelhecido. 
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. 
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário 
Como um cão tolerado pela gerência 
Por ser inofensivo 
E vou escrever esta história para provar que sou sublime. 

Essência musical dos meus versos inúteis, 
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, 
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, 
Calcando aos pés a consciência de estar existindo, 
Como um tapete em que um bêbado tropeça 
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. 

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. 
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada 
E com o desconforto da alma mal-entendendo. 
Ele morrerá e eu morrerei. 
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. 
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, 
E a língua em que foram escritos os versos. 
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. 
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente 
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, 
Sempre uma coisa defronte da outra, 
Sempre uma coisa tão inútil como a outra, 
Sempre o impossível tão estúpido como o real, 
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, 
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. 

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), 
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. 
Semiergo-me enérgico, convencido, humano, 
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. 

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los 
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. 
Sigo o fumo como uma rota própria, 
E gozo, num momento sensitivo e competente, 
A libertação de todas as especulações 
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. 

Depois deito-me para trás na cadeira 
E continuo fumando. 
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. 

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira 
Talvez fosse feliz.) 
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. 

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). 
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. 
(O dono da Tabacaria chegou à porta.) 
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. 
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo 
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu. 


Artigos relacionados:
José Fernando Vasco

«História da Literatura Portuguesa» (DVD-ROM)


Disponível para consulta na BECRE 
graças à amável oferta de Pedro Valadares

A História da Literatura Portuguesa, da autoria de Óscar Lopes e António José Saraiva, constitui o corpo integral desta aplicação. A disponibilização de diversas ferramentas de trabalho, vastos conteúdos adicionais relacionados com autores, obras e personagens e inúmeros recursos multimédia tornam esta aplicação obrigatória para todos os que se interessam pela nossa literatura. Inclui inúmeros textos complementares sobre a vida e obra dos mais relevantes escritores portugueses.
O Elucidário explica o significado de mais de meio milhar de termos de índole literária.
Uma base bibliográfica composta por milhares de referências permite a procura imediata de obras pelo respectivo título, nome do autor ou editora e data de edição.
A maioria das palavras são clicáveis, facilitando a pesquisa de qualquer conteúdo associado à consulta que se está a efectuar.
A forte vertente multimédia reflecte-se na apresentação de centenas de imagens, vídeos, locuções, diaporamas e frisos cronológicos.

Críticas de imprensa

Uma particularidade: a maior parte das palavras estão em hiper-texto, o que remete, para mais e melhor informação sobre estes oito séculos de Literatura, nunca concluída, uma vez que a actualização se faz on-ine e a título gratuito. (Correio da Manhã)

(...) constitui uma importante ferramenta de trabalho para estudantes, professores, escritores e todos os que se interessam por literatura. (Público)

Fonte:
Porto Editora
José Fernando Vasco

Vídeo-poema XI: «Uma pequenina luz» de Jorge de Sena

«Uma pequenina luz»

Poema:
Jorge de Sena

Declamado por:
Tânia Pinto






Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.

Artigos relacionados:
Hiperligação:

José Fernando Vasco

«A lenda de Martim Regos» de Pedro Canais

Disponível para consulta na BECRE
graças à amável oferta de Paula Penha

Pen Clube Português 2004 (Primeira Obra)

«Em plena época dos Descobrimentos um herói português, aventureiro, descobre a plenitude da vida nos quatro cantos do mundo. Um livro na esteira da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.


A história de Martim Regos coincide com o descobrimento do mundo. Este misterioso português nasce no Ribatejo em 1453, mas foge para a Granada muçulmana durante a adolescência e converte-se ao islamismo. É já com o nome de Abu Rial que percorre o continente africano, anda pelo Egipto, explora a costa do Brasil, visita Veneza, conhece Meca e Jerusalém, chega à Índia e acaba por ser o primeiro europeu a entrar na China depois de Marco Polo.
Pelo meio de tudo isto, conhece o amor das negras em África, das índias do Brasil, das indianas do Malabar e das aborígenes do Pacífico. No entanto, permanece fiel à mesma paixão: uma galega que conhece aos quinze anos.
Um herói que ultrapassa o seu próprio tempo - apaixonado pelos novos saberes, viajante incansável, aventureiro e audaz, mas fiel a si próprio, às suas inquietações e a uma infinita determinação que nunca o abandonou.
Já perto do fim, sente a obrigação de deixar como herança os conhecimentos que adquiriu e de mostrar como é possível viver em qualquer parte do mundo, descobrindo a plenitude da vida.»

Fonte:
José Fernando Vasco

«Filha do Sangue» de Anne Bishop

Disponível para consulta na BECRE
graças à amável oferta de Paula Penha

«Há setecentos anos atrás, num mundo governado por mulheres e onde os homens são meros súbditos, uma Viúva Negra profetizou a chegada de uma Rainha na sua teia de sonhos e visões. Agora o Reino das Sombras prepara-se para a chegada dessa mulher, dessa Feiticeira que terá mais poder do que o próprio Senhor do Inferno. Mas a Rainha ainda é nova, passível de ser influenciada e corrompida. 

E quem controlar a Rainha controlará o mundo. Três homens poderosos, inimigos de sangue, sabem isso. Saetan, Lucivar e Daemon apercebem-se do poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. E assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, onde as armas são o ódio e o amor. E o preço pode ser terrível e inimaginável.»

Críticas de imprensa:

- "A Filha do Sangue de Anne Bishop é como uma chávena de café: forte, negro e duro para com os estômagos mais delicados."  (Times Literary Supplement)
- "Anne Bishop traz-nos uma trilogia única no panorama da fantasia. Não há nada que se assemelhe. Tornou-se uma autora incontornável." (Chicago Tribune)
- "Tremendamente sensual... Ricamente detalhado, o cenário de Bishop é baseado num mundo onde se revertem todos os clichés do género fantástico. Simplesmente genial."(Library Journal)

Fonte:
José Fernando Vasco

União Europeia - Nobel da Paz 2012

A atribuição do prémio Nobel da Paz 2012 à União Europeia não deixa de constituir um facto político tão relevante - e polémico - quanto o da atribuição, em 2009, a Barack Obama, então no início do seu primeiro mandato como Presidente dos Estados Unidos da América.
Num momento em que a União Europeia está francamente ameaçada pela crise da Zona Euro, a atribuição do referido prémio é muito significativa se recordarmos que, com todos os percalços e insuficiências do projeto europeu, se trata de uma das mais extraordinárias realizações políticas, económicas e civilizacionais da Humanidade e que, para nós portugueses, representou um passo importante, a partir de 1986, para a consolidação do regime democrático da II República.

As razões apontadas para a decisão são muito claras: «durante cerca de seis décadas, contribuiu para a paz e reconciliação, para a democracia e os direitos humanos na Europa». (Fonte: NobelPrize).

Para visionar a entrevista relativa à atribuição do prémio Nobel da Paz 2012, clicar aqui.

José Fernando Vasco

Cursos de Português Para Falantes de Outras Línguas (ano letivo de 2012/2013)

Mais uma vez, iniciaram-se cursos de Português para Falantes de Outras Línguas. Os formandos (cerca de 100) são oriundos de diversos pontos do globo, tais como Alemanha, Angola, Argentina, Bangladesh, China, Colômbia, Cuba, Espanha, França, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Índia, Indonésia, Malásia, Moldávia, Nepal, Paquistão, Polónia, República do Congo, Roménia, Rússia, Senegal, Serra Leoa, Sérvia, Ucrânia e Zimbabwe. 
Estamos em crer que a panóplia de proveniências irá, seguramente, enriquecer toda a comunidade. 

Maria João Alvarez 
José Lourenço Cunha

Mo Yan - Nobel da Literatura 2012

Photo: © J. Kolfhaus, Gymn. Marientha,
Creative Commons Attr. Share Alike 3.0
O laureado com o prémio Nobel da Literatura de 2012 - Mo Yan («Não fale»), pseudónimo de Guan Moye (1955-...) - é um autor chinês pouco conhecido em Portugal e do qual apenas existe uma tradução: «Peito grande, ancas largas», um vasto fresco sobre a China do século XX.

A Academia sueca justificou a escolha pelo seu «realismo alucinante que mistura contos populares, história e contemporaneidade».



O seu único livro traduzido para português, publicado originalmente em 1996, trouxe-lhe problemas com o regime chinês, ao ponto de ter sido obrigado a fazer uma autocrítica à qual se seguiu a retirada do livro de circulação na China. Atualmente, Mo Yan é vice-Presidente da Associação de Escritores da China.

A reação à atribuição do prémio referido ao autor de «Red Sorghum» (1987) foi díspare. Junto da oposição chinesa ao regime oficial, a indignação imperou; o orgulho foi o sentimento dominante de alguns chineses entrevistados. Em termos internacionais, tem sido apontada como prova da crescente influência internacional da China, depois da atribuição do Nobel da Paz a Liu Xiaobo e do da Literatura a Gao Xinjian*, ambos opositores ao regime político chinês. Em suma, uma escolha que ainda irá proporcionar muita polémica, quer literária quer política.

* A BECRE possui
no seu fundo documental



Hiperligação:

José Fernando Vasco

«Nós Portugueses» de acordo com Pordata/RTP (em DVD)

DVD diponível para consulta na BECRE 
graças à oferta da
Fundação Francisco Manuel dos Santos

«Educação, Saúde, Famílias, Empresas, Emprego, População, Contas Nacionais, Contas do Estado, Ciência, Cultura, Ambiente, Justiça ... doze temas foram apresentados semanalmente no "Nós portugueses", com base, na sua maioria, nos números da PORDATA. Entre Outubro e Dezembro de 2011, de segunda a sexta-feira no Telejornal das oito, a RTP passou diariamente, um minuto com os números que nos ajudam a compreender a evolução da sociedade portuguesa e sua comparação com a Europa, sempre que pertinente.

Este projecto resultou de uma parceria da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a RTP, tendo como objectivo promover o conhecimento da nossa sociedade.
A autoria dos textos é de José Júdice e a produção é da Terra Líquida. O "Nós portugueses" foi apresentado pela Alberta Marques Fernandes.»
Fonte:

DVD1:
Ciência e Cultura - Contas Nacionais - Contas do Estado - Educação
Emprego e Trabalho - Empresas.

DVD2:
Família, Custo e Nível de Vida - Habitação, ambiente e Território - Justiça
População - Saúde e Proteção Social - Território e Ambiente.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Arquivo