Les glaneuses, Jean-François Millet, c.1857 |
Les glaneuses de Jean-François Millet (1814-1875) alcançou uma enorme popularidade durante o século XIX e ainda durante o começo do século XX, sendo hoje considerada uma obra emblemática do realismo francês, estilo em que Millet foi líder juntamente com J.-B. Corot (1796-1875).
Como muitas vezes acontece com as grandes pinturas, a aparência desta obra é, num primeiro olhar, dececionante. No entanto, a manipulação feita pelo artista para representar a vastidão do espaço do campo afasta-a da mediania artística. Vejamos, então, porquê.
O horizonte localiza-se acima da linha mediana do quadro, encontrando-se sobre este palheiros e casas de tamanho muito pequeno. Ora, isto é fundamental para criar um efeito de distância considerável. Depois, quando olhamos para a parte esquerda do mesmo horizonte, vemos palheiros com maiores dimensões, facto que os faz aproximar do primeiro plano da composição onde se encontram as mulheres. O caminho percorrido pela visão desde a linha do horizonte até às mulheres torna-se assim rápido, quase anulando a existência de uma distância ou plano médio. E é precisamente esta característica, assim como a colocação da cabeça da mulher do lado direito sobre o horizonte, que confere uma grande dimensão às três camponesas que colhem os restos da ceifa.
Millet utilizou também a perspectiva aérea para conferir distância à paisagem. Aqui foi igualmente criativo. Para reforçar e fixar o movimento de afastamento na diagonal das três mulheres, utilizou o mesmo valor tonal escuro para os camponeses que se encontram próximo do fardo de palha pintado ao longe no lado esquerdo, em vez de atribuir-lhes o mesmo tratamento claro e enevoado conferido às casas e fardos de palha pintados sobre a linha distante do horizonte. Quanto aos detalhes, a regra para sugerir profundidade foi respeitada: mais detalhe nos elementos do primeiro plano (camponesas e chão ceifado), menos detalhe na representação do plano de fundo (casas, fardos de palha, outros camponeses).
O ponto de vista concedido ao espectador, permite que este contemple a cena rural a partir de uma posição elevada, como se olhasse por cima das costas vergadas das duas mulheres da esquerda.
A simplicidade da cena principal é tão grande, que o espectador é obrigatoriamente levado a olhar para as redondezas e a refletir sobre a dependência do homem em relação ao cultivo da terra. As faces das mulheres permanecem no escuro, são gente anónima reduzida ao trabalho de apanhar os parcos restos deixados pelos ricos, que estão distantes nas suas casas sobre o horizonte. Este é o comentário social deixado por Millet sobre as classes camponesas pobres de França. Só a luz dourada confere a dignidade possível às pobres mulheres respigadeiras.
A simplicidade da cena principal é tão grande, que o espectador é obrigatoriamente levado a olhar para as redondezas e a refletir sobre a dependência do homem em relação ao cultivo da terra. As faces das mulheres permanecem no escuro, são gente anónima reduzida ao trabalho de apanhar os parcos restos deixados pelos ricos, que estão distantes nas suas casas sobre o horizonte. Este é o comentário social deixado por Millet sobre as classes camponesas pobres de França. Só a luz dourada confere a dignidade possível às pobres mulheres respigadeiras.
A linha do horizonte, a diagonal da profundidade e a altura do primeiro plano.
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O desenho preparatório para Les glaneuses. |
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