No próximo dia 31 de Janeiro iniciam-se as comemorações oficiais do
Centenário da República. Hoje assinalamos o facto que, a par da eleição do deputado republicano Rodrigues de Freitas (1878), das Comemorações do Tricentenário da Morte de Camões (1880) e da fundação do jornal "O Século" (1881), marcou a existência de uma alternativa à monarquia em Portugal. O
Ultimato de 11 de Janeiro de 1890 constituiu um dos momentos-chave para a compreensão do processo de desagregação da monarquia e de afirmação do ideal republicano, cujo triunfo iria consumar-se a 5 de Outubro de 1910. Representou o fim do sonho do "
Mapa Cor-de-Rosa", projecto colonial que Portugal tentou fazer vingar a partir da
Conferência de Berlim (1885) e que chocou com os intrincados jogos de interesse colonial entre os três colossos europeus da época: Grã-Bretanha, Alemanha e França. O
rei D. Carlos que tinha sucedido a D. Luís em 1889 e perante a crise económico-financeira e a crescente instabilidade política, viu-se confrontado com as exigências britânicas.
« O que o Governo de Sua Majestade deseja e em que mais insiste é no seguinte: Que se enviem ao governador de Moçambique instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países dos Makololos e Mashonas se retirem. O Governo de Sua Majestade entende que, sem isto, as seguranças dadas pelo Governo Português são ilusórias. Mr. Petre ver-se-á obrigado, à vista das suas instruções, a deixar imediatamente Lisboa, com todos os membros da sua legação, se uma resposta satisfatória à precedente intimação não for por ele recebida esta tarde; e o navio de Sua Majestade, Enchantress, está em Vigo esperando as suas ordens.»
Os Republicanos aproveitam a situação para alargar a sua base social de apoio, criticando a monarquia de já não ser o garante da integridade territorial e da soberania nacional, afirmando a alternativa republicana:
« A monarquia, que já não proclama a ficção de manter a nossa integridade, e que se sustenta provisoriamente pelo nosso desmembramento, não tem apoio moral; mantém-se apenas pela indiferença geral [...] O que é a República, senão uma nacionalidade exercendo por si mesma a própria soberania, intervindo no exercício normal das suas funções e magistraturas? No estado actual da crise portuguesa só existe uma solução nacional, prática e salvadora - a proclamação da República. »
O Ultimato, a inevitável aceitação por D. Carlos e a campanha política do Partido Republicano Português mostraram que, como ilustra
Rafael Bordalo Pinheiro, a monarquia poderia começar a estar em perigo devido à sua incapacidade em afirmar Portugal como uma nação soberana e independente dos interesses das grandes potências. Como aliás se confirmou a 31 de Janeiro de 1891, no Porto.
Bibliografia recomendada
e disponível para consulta na BE/CRE:
Rui RAMOS (coord.), História de Portugal, Lisboa: Esfera dos Livros, 2009.
António REIS (dir.), Portugal Contemporâneo - volume 2, Lisboa: Edições Alfa, 1992.
Nuno Severiano TEIXEIRA, O Ultimatum inglês: política externa e política interna no Portugal de 1980, Lisboa: Edições Alfa, 1990.
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