«Primeiro o sismo, depois o tsunami e de seguida um acidente nuclear.», é a primeira frase de um artigo sobre o Japão que surgiu na secção «Destaque» do jornal Público do dia 14 de Março de 2011 (p.2), três dias após o violento sismo que atingiu o Nordeste deste país.
Hoje, o presente texto encerra um conjunto de três artigos que têm como objectivo abordar precisamente as palavras «sismo», «tsunami» e «radioactividade», no contexto da tragédia japonesa e da geologia (os dois artigos anteriores podem ser consultados aqui e aqui).
Hoje, o presente texto encerra um conjunto de três artigos que têm como objectivo abordar precisamente as palavras «sismo», «tsunami» e «radioactividade», no contexto da tragédia japonesa e da geologia (os dois artigos anteriores podem ser consultados aqui e aqui).
Como se obtém a energia nuclear?
Depois de duas bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasaqui (Japão, 1945), e de dois graves acidentes nucleares ocorridos em Three Mile Island (EUA, 1979) e Chernobyl (URSS, 1986), o recente acidente na central nuclear de Fukushima, localizada a 250 Km de Tóquio, pode, seguramente, juntar-se ao conjunto anterior e fazer ressurgir mundialmente a questão do nuclear.
A nossa procura por cada vez mais energia está a tornar-se preocupante. Na China, por exemplo, constroem-se actualmente quase meia centena de centrais nucleares e no Japão existem 52 que asseguram um terço do consumo de electricidade do país (Expresso, 12 de Março de 2011, p.33). Pode a energia nuclear considerar-se renovável? Sim, atendendo ao facto de ser possível obter grandes quantidades de energia eléctrica utilizando muito pouca matéria-prima natural. E pode a energia nuclear ser considerada não poluente? Sim, mas... só até um possível acidente nos reactores!
Jack Lemmon, Jane Fonda e Michael Douglas em "The China Syndrome" (EUA, 1979), de James Bridges, um vigoroso filme de suspense e drama que alerta para os perigos da energia nuclear e também para o poder dos noticiários de televisão.
(dobrados em castelhano)
O planeta é finito, o que significa que os seus recursos naturais são todos esgotáveis ao ritmo acelerado a que sucede a actual delapidação geológica e da biodiversidade. Ao mesmo tempo, usamo-lo como um “caixote do lixo”, esquendo-nos que, tal como qualquer recipiente, a Terra poderá alcançar o limite máximo de sustentabilidade em matéria de acumulação de resíduos produzidos pelos humanos. Co-existimos (e a restante biosfera) com lixos facilmente libertados para o ar, solo e água, que modificam as condições ambientais ao desequilibrar o funcionamento dos ecossistemas, habituados a funcionar ao ritmo da longa e lenta evolução geológica e biológica.
Como se limpa a radioactividade espalhada pelo meio ambiente? Ou, como se poderá reciclá-la? Nem o cientista francês Henri Becquerel (1852-1908), Pierre Curie (1859-1906), Marie Curie (1867-1934), ou a austríaca Lise Meitner (1878-1968) alguma vez pensaram no assunto.É, portanto, urgente a maior utilização de formas de energia verdadeiramente não poluentes e, para isso, há que incrementar mais rapidamente a investigação em torno de tecnologia limpa, melhorar a divulgação da já existente, criar benefícios fiscais para a sua aquisição inicial, e consciencializar as populações para a necessidade de serem “verdes”.
Com a utilização da maior parte da tecnologia actual, a sociedade de consumo acabará por destruir a sustentabilidade planetária terrestre. E poderá não existir mais nenhum local para habitar no restante universo. De nada servirá pensar, como muitos, que dentro de alguns anos estaremos a viver noutro planeta com características físico-químicas semelhantes à Terra. Em primeiro lugar, falta encontrar esse planeta. Em segundo lugar, no espaço de 30 ou mais anos as viagens planetárias ainda serão longas (meses, anos), o que aumenta a complexidade das questões de índole logística quanto ao armazenamento de combustível, dos alimentos e da sua produção em meio artificial, e a reciclagem ou a acomodação dos resíduos produzidos. O peso total do veículo espacial aliado à sua deslocação no espaço, será um tremendo “bico-de-obra” para resolver, a avaliar pela actual situação do conhecimento científico. Além do mais, a preparação física e psicológica das pessoas para tal transporte continuará sempre a ser o principal obstáculo à sua própria transferência para um planeta semelhante ao nosso.
O planeta Terra na visão filosófica de Carl Sagan
Os cálculos efectuados recentemente pelos demógrafos indicam que em Outubro deste ano seremos 7 mil milhões de pessoas sobre a superfície terreste. Daqui a 20, 30 anos, quando provavelmente até conseguirmos colocar dois ou três astronautas em Marte, seremos ainda mais. Se nada fizermos, o planeta Terra terá problemas ambientais muito mais graves do que tudo o que já se observa no presente. E, então, como se colocará, nessa altura, uma população de biliões noutro planeta? Como se adaptará o nosso comportamento, organização social e cultura, a um novo espaço? A um espaço sem a nossa história?
Desta vez, não é possível “colocar o lixo debaixo do tapete”, pois a possibilidade de habitarmos outro planeta poderá não sair das páginas dos livros de ficção científica.
Disponível para consulta na BECRE |
A acompanhar este artigo divulga-se mais um livro de Pierre Kohler, publicado pela Bertrand Editora em 1988, e intitulado “As Grandes Fontes de Energia”. Do índice constam os seguintes capítulos:
1. As energias fósseis 2. As energias renováveis
3. A energia solar
4. As energias do futuro
Quanto aos textos presentes em cada um destes capítulos e contextualizados historicamente, só alguns títulos: “As transformações de energia”; “A gaseificação do carvão”; “Uma vasta indústria: a petroquímica”; “Como se liberta a energia nuclear?”; “A energia eólica: a força do vento”; A geotermia: a energia das profundezas”; O Sol e a antiga ciência”; “Como funciona uma célula solar?”; “Fissão e fusão: qual a diferença?”.
Quase a terminar a redacção do presente artigo, é também importante não fazer esquecer que a descoberta do átomo foi um dos maiores feitos no domínio das ciências físico-químicas. E, se é certo que a aplicação científica das reacções nucleares afectaram profundamente o mundo quase no fim da 2.ª Guerra Mundial, com o lançamento de duas bombas atómicas sobre o Japão, e que nestes primeiros anos do século XXI temos armas nucleares de destruição em massa, que alimentam as concepções bélicas de vários países, e centrais nucleares, para melhor suprir as necessidades energéticas, não menos verdade é que devemos ao estudo e pesquisa da radiação atómica a esterilização mais eficaz de equipamentos, o diagnóstico de doenças, a preservação dos alimentos por mais longo tempo, a datação de fósseis e artefactos históricos humanos, ou o uso de marcadores radioactivos para compreender as vias metabólicas associadas aos processos bioquímicos.
O facto das centrais nucleares construídas serem gradualmente mais seguras, de nunca terem exigido características geográficas muito específicas ou áreas muito extensas para a sua construção (como as barragens), nem em fase alguma do seu funcionamento a utilização de combustíveis fósseis (como nas centrais termoeléctricas), não poluíndo, portanto, a atmosfera, faz com que a questão do nuclear seja hoje menos vezes abordada nos meios de comunicação social quanto às suas implicações na saúde humana (pele, órgãos geradores de sangue, órgãos reprodutores e malformações na descendência) e no meio ambiente. Os problemas éticos falados nas discussões científicas transferiram-se, deste modo, para a genética e os temas do DNA, clonagem e alimentos transgénicos.
Mas, as centrais nucleares continuam no planeta e os milhares de toneladas de lixo radioactivo armazenados em minas, montanhas e subterrâneos geologicamente inseguros a longo prazo, também...
Vídeos:
Três grandes acidentes nucleares:
Fukushima (Japão, 2011)
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Artigos relacionados:
Japão - O grande sismo (I)
Japão - O grande sismo (II)
Hiperligações:
Radioactividade
Rosa Espada
(Texto)
Helena Cruz
(Selecção de imagens e vídeos)
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