«O que estou a fazer nesta Europa?»,
pergunta Portugal a chorar…
Responde a Europa, uma linda princesa fenícia…
pergunta Portugal a chorar…
Responde a Europa, uma linda princesa fenícia…
É claro que também há um lugar para ti nesta velha Europa. Senão não tinhas nascido, não existias, não te tinhas tornado uma nação independente. É claro que tu deves servir para alguma coisa, Portugal. A tua História é magnífica. Pára de chorar, pára de gemer, pára de te lamentar e de repetir que és insignificante e atrasado e pequeno e miserável e tudo e tudo...
Como escreveu Heródoto «O importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre». Escuta Heródoto que nisto tem razão. Se isto é inútil, então tudo é inútil. Até as estrelas. O mundo inteiro que cresce dentro de nós. Ouve o Heródoto que sabe o que diz, que de louco não tem nada. Bem sabes que foi o primeiro, ainda no século V a.c., a chamar Europa a todo o continente. Olha, por exemplo, para o Luxemburgo, um pequeno país, com uma história menos gloriosa que a tua. Está aqui, na Europa, ocupa um lugar, marca a sua presença, impede talvez um outro país de aumentar as suas fronteiras. Vai cumprindo o seu papel, e olha que ele não se queixa, Portugal. Se um pequeno país com cerca de 2 586 km², em que cerca de 16% da população é constituída por imigrantes portugueses, tem o seu valor, então tu que deste novos Mundos ao Mundo que exploraste o continente africano e descobriste o caminho marítimo até à Índia e chegaste ao Brasil e tens nomes como Camões e Eça e Sena e Torga e Augustina e Mourão Ferreira e Pessoa e Sophia e Saramago na literatura e outros que tais nas artes, nas ciências, na cultura, no desporto, não tinhas?
Não é preciso ser como os outros e possuir recursos naturais, ter uma localização geo-estratégica privilegiada e ter uma economia forte e multinacionais cotadas em Bolsa, enfim, ter uma rigorosa organização financeira, a dívida pública e o défice controlados. Bem sabes que não os tens e, na verdade, ao longo da tua história, nunca foste muito disciplinado financeiramente e os teus governantes nunca primaram por imperativos éticos e morais muito consistentes. Recordas certamente o estado das tuas finanças depois da primeira experiência governativa republicana e o isolamento a que foste condenado pelo regime ditatorial que viveste entre 1926 e 1974? Pois…Será melhor nem falarmos disso… Talvez o teu Nobel José Saramago tivesse alguma razão quando escreveu «Não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa?». (1) Pois Portugal… Que questões tão actuais…
Mas como te disse, não é preciso ser como os outros…Lembra-te disso ao acordar todos os dias de manhã, e não te esqueças de repeti-lo ao deitar, como uma prece, a única, a verdadeira, aquela que não decoramos, esquecendo o que quer dizer, que ninguém nos impinge, mas sai directamente do coração. Sabes que tenho uma especial ligação à ilha de Creta, pois foi para lá que Zeus me levou e tive os meus três filhos (Sarpidon; Radamantes e Minos). Repara na difícil situação económica e financeira por que passa o país a que pertence. E não é por isso que se entregou ao desalento, continua a lutar por vir à tona, para não se afogar no pântano das tristezas e das desgraças, para reviver os tempos gloriosos de Homero, de Ulisses, de Hércules…
Oh Portugal, Portugal, achas que a União Europeia teria ficado contigo se fosses um inútil por completo, um zero à esquerda, menos que nada? Não te queria certamente no seu seio, não te teria atribuído fundos comunitários, não teria escolhido um português, Durão Barroso, para presidente da Comissão Europeia. Mais, não teria dado a possibilidade de estabilizares as tuas contas públicas, suspirava de alívio, esfregava as mãos de contente por poder livrar-se de ti tão facilmente quando nos últimos anos ultrapassaste significativamente os limites do défice público, e nunca mais pensava em ti. Podia ter-te apanhado a dormir, basicamente o que fizeste nas últimas décadas, e expulsava-te, punha-te a andar da União e da moeda única (Euro) que ficarias para sempre nas brumas da história como a mais fraca e desastrada das nações deste continente.
Ai Portugal, Portugal, os milhões em fundos comunitários que te atribuiu constituíram apenas um sinal. Ela (UE) não poderia saber do que os teus governantes eram capazes, além disso não pensa. É como os cães, só sabe ladrar. E, depois, nunca exprimimos realmente o valor que atribuímos aos outros, sobretudo quando a vida é difícil. E bem sabes que os tempos vão difíceis, Portugal. Apesar do sol, o frio corta-nos as veias, não paramos de tremer. Se não chove, sopra um vento de agonia que arrasa os ossos e ameaça devastar tudo e anular quaisquer esperanças…E os nossos povos não comem nada disso. Ficam sós, à deriva, ao sabor dos efeitos da tal economia de mercado… Bons tempos aqueles em que Zeus me avistou lá do Olimpo a apanhar flores junto da foz de um rio e me decidiu raptar e levar-me para Creta. Não se falava em desemprego, nos défices orçamentais, na dívida pública, no Banco Central Europeu, na falência do Estado social, no preço do barril do brent, na subida das taxas de juro, nas agências de rating, nos problemas ambientais, no FMI (Fundo Monetário Internacional), e claro, no mediático PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento)… Bons tempos Portugal!
Sabes, certamente que a História do Continente Europeu foi marcada por conquistas, por invasões, pela construção de Impérios, o que fez com que, durante séculos, a Europa assistisse ao eclodir de várias guerras que provocaram milhões de vítimas e deixaram profundas marcas de destruição. Com efeito, poucos cidadãos europeus sabem que a 9 de Maio de 1950 nasceu a Europa comunitária, numa altura em que a perspectiva de uma terceira guerra mundial angustiava toda a Europa. Nesse dia, no ano de 1950, em Paris, a declaração redigida por Jean Monnet e lida à imprensa por Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, defendeu a concretização de um espírito de fraternidade, de união, de cooperação entre os povos europeus. Foi, então, assinado, em 1951 , o Tratado que instituiu a primeira Comunidade Europeia, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Como te deves lembrar, a partir daí foram vários os alargamentos até que actualmente são 27 os países que fazem parte da União Europeia. No entanto, os desafios colocados à manutenção desse espírito de união entre os países europeus têm sido constantes. E nós, europeus, temos que ter a consciência que não podemos voltar a cometer erros do passado, e que devemos criar as condições para manter e aperfeiçoar o espírito de fraternidade e união entre os povos da Europa. De um certo modo, é nesta linha de pensamento que nas agendas e nos calendários o dia 9 de Maio é identificado como "Dia da Europa".
Bem vi o teu desempenho no encontro e na Peça «A Europa quer-se unida», apresentada pela turma L, do curso EFA B3 no passado dia 9 de Maio, às 20 horas no auditório da Escola Secundária de Cacilhas-Tejo. Na verdade, todos os países da União Europeia que participaram foram fantásticos assim como os formandos dos cursos de Português para Falantes de Outras Línguas, os familiares, os formadores e os formandos das turmas EFA que assistiram à peça. E desta vez a turma foi surpreendida com a apresentação de um vídeo no qual foram visualizadas algumas fotos representativas do percurso formativo destes formandos na Escola Cacilhas-Tejo. É gratificante observar o empenho e a dedicação manifestadas pelos formandos nestas «teatrices». Delicioso estava o bolo «temático» confeccionado pela professora Fátima Melo e oferecido pelo projecto «Eu e o Outro - Olhares entre Culturas».
Oh Portugal, não te assustes com a estrada infindável que vai ficando para trás, a perder de vista e com aquela que te espreita à frente. Lembra-te da tua História, que és Nação desde o século XII, que tiveste que enfrentar muitas lutas para garantir a tua independência e que entraste para a Comunidade Económica Europeia em 1986. Os europeus aguardam expectantes o cumprimento das palavras do teu poeta Fernando Pessoa «Esse futuro é sermos tudo. (…) Conquistamos já o Mar: resta que conquistemos o Céu, ficando a terra para os Outros, os eternamente Outros, os Outros de nascença, os europeus que não são europeus porque não são portugueses. Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma cousa! » (2)
Conta-nos histórias daquelas que nós não vimos… Daquelas dignas e épicas que foste capaz de cumprir lá atrás, no tempo… Cumpre o teu destino, Portugal.
Bom futuro. Até sempre. Da tua sempre querida Princesa Europa.
Como escreveu Heródoto «O importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre». Escuta Heródoto que nisto tem razão. Se isto é inútil, então tudo é inútil. Até as estrelas. O mundo inteiro que cresce dentro de nós. Ouve o Heródoto que sabe o que diz, que de louco não tem nada. Bem sabes que foi o primeiro, ainda no século V a.c., a chamar Europa a todo o continente. Olha, por exemplo, para o Luxemburgo, um pequeno país, com uma história menos gloriosa que a tua. Está aqui, na Europa, ocupa um lugar, marca a sua presença, impede talvez um outro país de aumentar as suas fronteiras. Vai cumprindo o seu papel, e olha que ele não se queixa, Portugal. Se um pequeno país com cerca de 2 586 km², em que cerca de 16% da população é constituída por imigrantes portugueses, tem o seu valor, então tu que deste novos Mundos ao Mundo que exploraste o continente africano e descobriste o caminho marítimo até à Índia e chegaste ao Brasil e tens nomes como Camões e Eça e Sena e Torga e Augustina e Mourão Ferreira e Pessoa e Sophia e Saramago na literatura e outros que tais nas artes, nas ciências, na cultura, no desporto, não tinhas?
Não é preciso ser como os outros e possuir recursos naturais, ter uma localização geo-estratégica privilegiada e ter uma economia forte e multinacionais cotadas em Bolsa, enfim, ter uma rigorosa organização financeira, a dívida pública e o défice controlados. Bem sabes que não os tens e, na verdade, ao longo da tua história, nunca foste muito disciplinado financeiramente e os teus governantes nunca primaram por imperativos éticos e morais muito consistentes. Recordas certamente o estado das tuas finanças depois da primeira experiência governativa republicana e o isolamento a que foste condenado pelo regime ditatorial que viveste entre 1926 e 1974? Pois…Será melhor nem falarmos disso… Talvez o teu Nobel José Saramago tivesse alguma razão quando escreveu «Não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa?». (1) Pois Portugal… Que questões tão actuais…
Mas como te disse, não é preciso ser como os outros…Lembra-te disso ao acordar todos os dias de manhã, e não te esqueças de repeti-lo ao deitar, como uma prece, a única, a verdadeira, aquela que não decoramos, esquecendo o que quer dizer, que ninguém nos impinge, mas sai directamente do coração. Sabes que tenho uma especial ligação à ilha de Creta, pois foi para lá que Zeus me levou e tive os meus três filhos (Sarpidon; Radamantes e Minos). Repara na difícil situação económica e financeira por que passa o país a que pertence. E não é por isso que se entregou ao desalento, continua a lutar por vir à tona, para não se afogar no pântano das tristezas e das desgraças, para reviver os tempos gloriosos de Homero, de Ulisses, de Hércules…
Oh Portugal, Portugal, achas que a União Europeia teria ficado contigo se fosses um inútil por completo, um zero à esquerda, menos que nada? Não te queria certamente no seu seio, não te teria atribuído fundos comunitários, não teria escolhido um português, Durão Barroso, para presidente da Comissão Europeia. Mais, não teria dado a possibilidade de estabilizares as tuas contas públicas, suspirava de alívio, esfregava as mãos de contente por poder livrar-se de ti tão facilmente quando nos últimos anos ultrapassaste significativamente os limites do défice público, e nunca mais pensava em ti. Podia ter-te apanhado a dormir, basicamente o que fizeste nas últimas décadas, e expulsava-te, punha-te a andar da União e da moeda única (Euro) que ficarias para sempre nas brumas da história como a mais fraca e desastrada das nações deste continente.
Ai Portugal, Portugal, os milhões em fundos comunitários que te atribuiu constituíram apenas um sinal. Ela (UE) não poderia saber do que os teus governantes eram capazes, além disso não pensa. É como os cães, só sabe ladrar. E, depois, nunca exprimimos realmente o valor que atribuímos aos outros, sobretudo quando a vida é difícil. E bem sabes que os tempos vão difíceis, Portugal. Apesar do sol, o frio corta-nos as veias, não paramos de tremer. Se não chove, sopra um vento de agonia que arrasa os ossos e ameaça devastar tudo e anular quaisquer esperanças…E os nossos povos não comem nada disso. Ficam sós, à deriva, ao sabor dos efeitos da tal economia de mercado… Bons tempos aqueles em que Zeus me avistou lá do Olimpo a apanhar flores junto da foz de um rio e me decidiu raptar e levar-me para Creta. Não se falava em desemprego, nos défices orçamentais, na dívida pública, no Banco Central Europeu, na falência do Estado social, no preço do barril do brent, na subida das taxas de juro, nas agências de rating, nos problemas ambientais, no FMI (Fundo Monetário Internacional), e claro, no mediático PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento)… Bons tempos Portugal!
Sabes, certamente que a História do Continente Europeu foi marcada por conquistas, por invasões, pela construção de Impérios, o que fez com que, durante séculos, a Europa assistisse ao eclodir de várias guerras que provocaram milhões de vítimas e deixaram profundas marcas de destruição. Com efeito, poucos cidadãos europeus sabem que a 9 de Maio de 1950 nasceu a Europa comunitária, numa altura em que a perspectiva de uma terceira guerra mundial angustiava toda a Europa. Nesse dia, no ano de 1950, em Paris, a declaração redigida por Jean Monnet e lida à imprensa por Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, defendeu a concretização de um espírito de fraternidade, de união, de cooperação entre os povos europeus. Foi, então, assinado, em 1951 , o Tratado que instituiu a primeira Comunidade Europeia, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Como te deves lembrar, a partir daí foram vários os alargamentos até que actualmente são 27 os países que fazem parte da União Europeia. No entanto, os desafios colocados à manutenção desse espírito de união entre os países europeus têm sido constantes. E nós, europeus, temos que ter a consciência que não podemos voltar a cometer erros do passado, e que devemos criar as condições para manter e aperfeiçoar o espírito de fraternidade e união entre os povos da Europa. De um certo modo, é nesta linha de pensamento que nas agendas e nos calendários o dia 9 de Maio é identificado como "Dia da Europa".
Oh Portugal, não te assustes com a estrada infindável que vai ficando para trás, a perder de vista e com aquela que te espreita à frente. Lembra-te da tua História, que és Nação desde o século XII, que tiveste que enfrentar muitas lutas para garantir a tua independência e que entraste para a Comunidade Económica Europeia em 1986. Os europeus aguardam expectantes o cumprimento das palavras do teu poeta Fernando Pessoa «Esse futuro é sermos tudo. (…) Conquistamos já o Mar: resta que conquistemos o Céu, ficando a terra para os Outros, os eternamente Outros, os Outros de nascença, os europeus que não são europeus porque não são portugueses. Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma cousa! » (2)
Conta-nos histórias daquelas que nós não vimos… Daquelas dignas e épicas que foste capaz de cumprir lá atrás, no tempo… Cumpre o teu destino, Portugal.
Bom futuro. Até sempre. Da tua sempre querida Princesa Europa.
Fausto
Europa Querida Europa
(1990)
(1) José Saramago, in "Entrevista". Revista Visão, 2003.
(2) Fernando Pessoa. "Portugal entre Passado e Futuro".
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Helena Ermitão
(fotos)
José Lourenço Cunha, Silvestre Ribeiro
(texto)
José Fernando Vasco
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