O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

Aos actores portugueses

foto de Luís Miguel Lines 


“Estes pombos de Lisboa quem os conhece, sou eu.
Ele há pombos no Rossio, ele há pombos no Camões, 
ele houve pombos no Carmo pendurados nos canhões.
Estes pombos de Lisboa quem os conhece, sou eu.”

 foto de Rui Gageiro

Ivone, Raul, Ruy, Eunice, Simone, Madalena, Camilo, Vasco…

Foram vocês, e tantos outros que a minha geração não conhece, porque a geração anterior à nossa não teve o cuidado de os preservar na sua memória, os mais loucos que acreditaram mais! Os que deram tudo, por nada.
Deram anos de vida a servirem este país pela palavra, mesmo quando esta era proibida, deram sorrisos e lágrimas, amores e ódios, esperanças e medos.
Vocês diziam as palavras dos grandes escritores que, por mensagens codificadas em frases enfeitadas e aprovadas pela censura, criticavam o que estava mal e davam esperanças a quem já não tinha.
O que terá acontecido aos inquisidores? A esses grandes senhores das grandes tesouras? Passado 36 anos, vocês os perdoaram?
Talvez este será mais um dos grandes mistérios que o pano, o barulho dos passos no palco, o som dos projectores a ligarem, os camarins, os corredores, o teatro… nos esconderá.
Quando nos vem á cabeça um nome de um(a) grande senhor(a) do espectáculo em Portugal, imaginamos que vivem muito bem, sem problemas nenhuns, que fazem muitas viagens, que vão sempre a grandes festas, que comem apenas um bom caviar e a acompanhar um bom champanhe, mas, quantas vezes não passaram fome? Quantas vezes não andaram aflitos com as contas no fim do mês? Quantas vezes não foram mal vistos por serem do teatro e acusados de terem uma vida desviante dos valores morais e boémia? Excentricidades? Só os belos fatos da revista quando esta a faziam!
Desculpem-nos. Desculpem-nos por não pensarmos em vocês como pessoas normais e esperarmos sempre mais do que verdadeiramente são. Na realidade, são apenas pessoas banais com gostos e feitios próprios por mais loucos, mais sonhadores, mais poetas, mais mentirosos, mais verdadeiros, mais vaidosos, mais tristes e mais sós que sejam.
Raul Solnado chegou a dizer que na vida só existe dois discursos, o pequeno e o grande. O pequeno era obrigado e o grande, muito obrigado. Por isso, a todos aqueles que estão mais perto, a todos aqueles que estão mais longe, e que fizeram do mundo do espectáculo a sua casa… Muito obrigado!
Hugo Marques
(CCH - Línguas e Humanidades) 

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