Ora, é precisamente esta constatação o leitmotiv do presente artigo, que pretende, por isso, chamar a atenção de todos os professores e alunos de ciências para o poder da BD enquanto mais um suporte pedagógico para o ensino e a aprendizagem da física, da matemática, da química, da astronomia, da ecologia, da relação entre ciência e sociedade, etc. Há que diversificar estratégias e métodos de ensino, não devendo os alunos permanecer agarrados quase sempre aos manuais escolares ou a “tijolos” com matérias científicas intragáveis e sem qualquer objectivo de despertar o interesse pelo conhecimento da ciência ou o seu aprofundamento.
Quando por vezes me perguntam com desprezo para o que serve a matemática, a minha resposta imediata é: «Para ir à Lua!». E não se pense que adoptei uma atitude socialmente incorrecta como moeda de troca face à provocação inicialmente recebida, pois o que respondi é mesmo verdade. E será isto, provavelmente, aquilo que mais falhará na transmissão do conhecimento científico do século XXI: fazer reconhecer no desenvolvimento da realidade envolvente, tanto natural como económica e social, a utilização das descobertas e dos conceitos científicos. Tal e qual um vício, a ciência continua a ser quase sempre apresentada como uma construção não histórica, ou seja, sem um propósito, sem uma contextualização social ou integração no mundo dos homens.
Passados 40 anos, a Lua continua a ser o único planeta (secundário) alguma vez visitado pela nossa presença física. Somos capazes de chegar a este astro as vezes que entendermos e isto é possível por intermédio de duas características da ciência: objectividade matemática e, consequentemente, reprodutabilidade dos processos.
Adiante, passo a apresentar resumidamente as cinco histórias de BD com interesse educativo que integram a exposição acima referida.
Dois álbuns famosos e em sequência de “As Aventuras de Tintin” para as personagens Tintin, Milú, capitão Hadock, professor Girassol e o engenheiro Wolff, onde um foguetão lunar parte do Centro de Pesquisas Atómicas de Sbrodj, localizado na Sildávia.
Consideradas clássicos da BD, estas obras publicadas no começo dos anos 50 denunciam magistralmente a mestria de Hergé enquanto desenhador de banda desenhada e escritor das histórias que ilustrou (a precisão observada no traço de desenho deste autor e nos textos que escreveu, avalia-se pelos detalhes minuciosamente trabalhados). Em 1969 alcançámos finalmente a Lua, mas as perguntas que na altura colocámos às nossas reais capacidades para tal conquista já se encontravam anteriormente presentes nestas histórias: Que contratempos poderiam surgir durante a viagem do foguetão lunar? Que perigos encontrariam Tintin e os seus companheiros na Lua? Será que regressariam à Terra?
A série de banda desenhada da autoria do astrofísico Jean-Pierre Petit, intitulada “As Aventuras de Anselmo Curioso”, constitui um bom exemplo de BD educativa. O autor utilizou a sua formação académica enquanto doutor em ciências, investigador no CNRS e professor de Belas-Artes, para ensinar ciência a leitores sem grande formação científica. No livro acima identificado e agora divulgado neste blogue, é feita uma introdução às bases do conhecimento geométrico, sendo igualmente abordada a geometria não euclidiana em associação com a teoria da relatividade geral de Einstein. Anselmo Curioso é o personagem principal.
No âmbito da “Associação Saber sem Fronteiras” e porque a BECRE apenas dispõe de um exemplar deste livro, disponibiliza-se, em seguida, o conjunto de hiperligações para a descarga gratuita deste exemplar e dos restantes da colecção:
"Os Mistérios da Geometria" - "Einstein e a Teoria da Relatividade" - "Einstein e o Buraco Negro" - "O Sonho de Voar" - "A Magia da Informática"
Obvia-se, desta forma, a demora em fazer chegar aos professores e alunos interessados o único exemplar impresso disponível na BECRE, assim como se ultrapassa o momento de actual crise económica, que restringe de modo muito significativo a aquisição de novas e mais obras para integrar o fundo documental das bibliotecas escolares. Estas, têm, actualmente, um importantíssimo trabalho como centro difusores de informação e devem executá-lo utilizando todos os meios ao seu alcance. A disponibilização das obras em suporte digital não fará desaparecer as correspondentes versões impressas, nem a necessidade de frequentar as bibliotecas, que terão pela frente o desafio de modernizar-se nos meios e nos serviços disponibilizados.
De Raymond Macherot, «Clorofila»:
Apesar de nem sempre o seu trabalho ter sido devidamente reconhecido, Raymond Macherot é outro desenhador e escritor de histórias para BD na linha da extraordinária tradição franco-belga nesta matéria.
As várias séries do arganaz Clorofila tiveram início em 1954, sendo fruto do gosto de Macherot pela vida rural. Por intermédio de personagens antropomorfizadas que são animais do campo, este autor cria fábulas onde a luta pela sobrevivência faz despoletar o aparecimento dos diversos tipos humanos encontrados em sociedade. Existem os animais bons e os animais maus, abordando-se o problema da co-existência de espécies diferentes numa mesma área geográfica. Os animais vilões são frequentemente predadores naturais das espécies autóctones, pois ignoram a «lei da terra». A questão desenvolvida nesta obra pode ser encarada do ponto de vista da biologia/ecologia como um caso de perturbação dos ecossistemas pela introdução de espécies invasoras (exóticas).
O livro em questão apresenta na capa apenas o título “Clorofila”, no entanto, no interior contém duas histórias relacionadas: “Clorofila contra os ratos Negros” e “Clorofila e os Conspiradores”. Trata-se, portanto, de dois trabalhos onde surgem conceitos associados à ecologia das populações. Os problemas de relacionamento entre as personagens animais são mostrados como o reflexo das relações humanas na satisfação dos seus interesses pessoais e de grupo.
Para além de Clorofila, são igualmente importantes um pequeno rato, uma lontra e uma ratazana. Os nomes dos animais são curiosos: Alcatrão, Minorca, Orelhudo, Escovilhão, Torpedo, Antracite, etc. A primeira história começa quando um moinho velho é demolido e os ratos negros que nele habitavam vão procurar outro lugar para viver – um vale próximo. A resistência organizada pelos animais habitantes do vale faz o resto desta história.
Fica aqui a sugestão para os professores e alunos interessados. Talvez a maior importância pedagógica da utilização da BD nas ciências resida em contactar com ideias que permitem explicar melhor conceitos abstractos e de difícil compreensão, fazendo uso de metáforas e comparações que nela se podem encontrar.
É claro que continua sempre em aberto a possibilidade de utilizar esta BD durante os momentos de lazer, que pode e deve ser preferencialmente educativo. As referências bibliográficas completas dos álbuns divulgados estão no catálogo da exposição.
Hiperligações:
BD Nostalgia; BD Portugal; Histórias dos Quadradinhos; Tintin.com; Tintim por Tintim; Kuentro2;
Sem comentários:
Enviar um comentário