O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

Um microscópio que mostrava “animáculos”

Antoni van Leeuwenhoek, Jan Verkolje (1650-1693)

Foi em 1675 que o holandês Antoni van Leeuwenhoek (1632-1723) observou os “animáculos” (microrganismos) presentes em simples gotas de água obtidas em diversos locais. Com esta observação e muitas outras também do domínio microscópico, Leeuwenhoek tornou-se no primeiro investigador a desenhar e descrever bactérias e protozoários, formas de vida até então nunca vistas.
A sua fama e prestígio científico foram alcançados graças ao desenvolvimento de qualidades exigidas a todos os que trabalham no edifício da Ciência: dedicação, curiosidade e paciência ilimitadas para desenvolver procedimentos, aguardar resultados e resolver fracassos. As centenas de cartas que enviou à Royal Society (Londres) e à Academia das Ciências de Paris fazem prova actual da imensidão das suas ideias experimentais e de como estas podem ser consideradas um marco no desenvolvimento da moderna microbiologia. No entanto, o maior feito de Leeuwenhoek foi ele próprio ter construído o diminuto microscópio que utilizava nas suas observações. E apesar de se tratar de um microscópio simples (com uma só lente de ampliação), este revelou-se mais competente do que o microscópio composto (com dois sistemas de lentes) inventado em 1590 por Hans (pai) e Zacarias (filho) Janssen.
Tudo neste microscópio é pequeno. Tanto a lente, com poucos milímetros de diâmetro (ampliações entre x30 a x270 e um poder de resolução da ordem dos 1,4 micrómetros), assim como as placas metálicas (39x22 mm) que a aprisionam mantendo-a fixa. Na realidade, o aparelho em questão cabe numa das nossas mãos, sendo, consequentemente, bastante portátil (cabe no interior dos bolsos e em pequenas caixas).
O segredo da técnica utilizada por Leeuwenhoek no esmerilhamento de lentes de alta qualidade nunca foi revelado, permitindo-lhe reservar apenas para si a primazia na obtenção das bonitas e esclarecedoras imagens ampliadas dos mundos animal, vegetal, mineral, e dos microrganismos, sem os problemas técnicos de óptica que afectavam as imagens obtidas pelas lentes dos microscópios compostos da época.
Para além das bactérias e dos protozoários que encontrava nas gotas de água, Leeuwenhoek observou também fibras musculares, o ferrão de abelhas, fibras de seda, glóbulos vermelhos, pulgas, formigas, pêlos de animais, cabeças e patas de moscas, espermatozóides, etc. Os trabalhos que desenvolveu sobre a circulação capilar, a ideia do “homúnculo” contido nos espermatozóides humanos, e para refutar a teoria da geração espontânea, devem muito a este pequeno objecto da tecnologia mundial.
O czar Pedro, o Grande (1672-1725), e a rainha Maria II de Inglaterra (1662-1694) foram dois utilizadores do microscópio de Leeuwenhoek quando em visita pela Holanda. A curiosidade pelo mundo do infinitamente pequeno começava a despontar por toda a Europa, lado a lado com a ancestral curiosidade pela vastidão das estrelas e planetas.
O didactismo deste aparelho justificaria, seguramente, a sua utilização nas escolas básicas e secundárias como primeira abordagem aos procedimentos-chave da microscopia e às leis de óptica. Telescópio incluído. A tecnologia como uma aplicação prática dos conhecimentos científicos também.



Microrganismos (algas e protozoários) presentes na água do Lago di Candia (Itália, Torino).

Hiperligações:
Antoni van Leeuwenhoek (Wikipédia).
Carta de Antoni van Leeuwenhoek à Royal Society, publicada em 1677 no periódico “Philosophical Transactions” desta instituição científica.
Rosa Espada

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