O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

Escola, Ensino e Instrução, segundo Olga Pombo


A Professora Olga Pombo foi a convidada especial da conferência "Desafios da Escola Hoje", realizada no dia 28 de Abril. Autora dos textos "O insuportável brilho da escola", "A Escola como Memória do Futuro" (sobre Agostinho da Silva) ou "Elogio da Transmissão", Olga Pombo com vasta experiência como docente, orientadora de estágio e investigadora, partilhou com os professores presentes o seu pensamento sobre o (necessário) regresso à instrução e à transmissão dos saberes, numa Escola que se preocupe primordialmente em ensinar.


A sessão começou com a intervenção da Srª Subdirectora da Escola, Professora Lurdes Gomes, que em nome da Directora Margarida Fonseca deu as boas vindas a Olga Pombo, agradeceu a disponibilidade da conferencista e destacou a importância da iniciativa, fruto de uma organização conjunta BECRE/ Grupo de Matemática.
Por seu lado, a Professora Ana Silva destacou quão importante para a sua formação académica e profissional foi Olga Pombo, enquanto sua Professora, orientadora de estágio e de mestrado. Para além de um resumo do percurso científico e académico da convidada, Ana Silva reiterou como para si foi (e é) importante a descoberta e o desenvolvimento do «amor pelo conhecimento».

Perante uma plateia atenta e por vezes surpreendida pela heterodoxia das suas posições face ao papel da escola, Olga Pombo defendeu, em contraposição às modernas teorias que têm dominado o pensamento pedagógico português nos últimos 30 anos, o regresso da Escola à Instrução, recuperando o seu histórico e civilizacional papel de transmissão do legado das gerações mais velhas às mais novas. Na sua opinião, o Ensino, núcleo fundamental da Escola, não se pode confundir com Educação, essencialmente uma tarefa da Família.

Reconhecendo as dificuldades que a sociedade ocidental hoje enfrenta, face a problemas como a dissolução do conceito tradicional de Família, Olga Pombo constatou que na Escola portuguesa dos inícios do século XXI, educar ocupa um destaque relativamente ao ensinar («inchamento da função educativa da Escola»), o que no seu entender deve ser revertido. 
Por outro lado, defendeu que a educação na escola funciona pelo exemplo: «A Escola educa pela sua estrutura organizativa e não necessita de perder tempo com discursos moralizantes.» 
O importante, aquilo que é a função da Escola, é o Ensino - «mostrar, dar a ver e, por vezes, demonstrar».

Após a exposição inicial da conferencista, alguns dos professores presentes colocaram questões relacionadas com o papel que a Escola deve desempenhar na "sociedade do conhecimento" - o que na opinião de Olga Pombo só reforça a importância do «papel cognitivo do Ensino»
As tecnologias da informação e a internet proporcionaram, como ferramentas, um muito maior acesso à informação, contudo desorganizada. A sua frase «o conhecimento é uma estrutura de bytes» provocou alguma agitação na plateia.
A avaliação dos alunos e dos professores foi outro tema de debate e, neste âmbito, Olga Pombo reiterou que ensino e avaliação são duas realidades distintas - esta última é normativa e só não é dispensável dada a necessidade de certificação.
No final da sessão, o professor-bibliotecário agradeceu à professora Olga Pombo pela partilha do seu conhecimento e propôs a consulta do artigo de Carlos Fiolhais "O Futuro dos Livros e das Bibliotecas".

Artigo relacionado:
As modas pedagógicas, por António Barreto 

José Fernando Vasco

2 comentários:

Maria Angela Gordo disse...

De uma forma suave e leve a Professora Olga Pombo, deu-nos a sua opinião sobre o que diferencia o ensino da educação, que soou forte e "estremeceu" a sala, qual sismo de média/forte magnitude.

Na defesa da sua tese, recuou até muitos anos atrás, quando se deu início ao ensino nomeadamente da Matemática.

Considerei fundamental a defesa feita pela Professora que a Escola é um local de ensino, e que este consiste em " mostrar, dar a ver e demonstar" .

Nos tempos que correm em que se discute se a avaliação dos alunos deve comtenplar ou não, as atitudes e valores, estamos também a falar do papel dos professores e da Escola no processo de ensino-aprendizagem. O ensino e a avaliação estão intimamente ligados como sabemos.

Então, significa que estamos, de certa forma, à procura daquilo que devemos "fazer" com os nossos alunos ao nível do Ensino. Se valorizamos as competêmcias cognitivas e instrumentais ou, também as atitudinais.

E aqui, os que defendem o desenvolvimento das competências cognitivas e instrumentais aproximam-se da tese defendida pela Professora Olga Pombo.

É necessário repensar o papel da Escola, a sua função, e o papel que cabe às famílias que é de facto, educar os filhos. Acontece que, na prática, encontramos filhos "mal" educados.
Assim, não esquecendo a função da Escola, temos por vezes, de exercer o papel de educadores,mas de bons educadores, para que possamos desenvolver um processo de ensino de uma forma mais eficiente.

E se não formos bons educadores?

Termino dizendo que esta Conferência foi fundamental para agitar as nossas ideias, para repensar o ensino e chegarmos a conclusões que tornem a Escola um local de verdadeira aprendizagem.

Angela Gordo

Nuno Miranda disse...

Fui aluno da Olga Pombo na Faculdade de Ciências em 1997. Sem dúvida uma das mentes mais brilhantes de quem fui aluno! A sua visão do Ensino é clara como a água, tal como deveria ser a nossa: Ensino=transmissão de conhecimentos; Educação=transmissão de valores; Instrução=aprendizagem por "imitação". O grande problema é que nós professores estamos inseridos numa máquina que não nos quer deixar pensar qual a diferença entre estas três palavras.
Acredito que num futuro distante nós, professores iremos voltar a ensinar e não a educar, pois esse trabalho já deveria vir feito de casa a partir do núcleo familiar.
Se pensarmos nas melhores escolas a nível nacional verificamos que são aquelas onde os alunos vêm para a escola com um elevado nível de valores e onde os professores se limitam (e muito bem) à transmissão de conhecimentos, porque para todos os efeitos é isso que conta para a realização de exames de acesso à Faculdade. Assim, percebemos perfeitamente qual o intuito dos sucessivos ministérios da Educação (não deveriam ser Ministérios do Ensino?): ocupar as criancinhas tornando a escola num depósito enquanto os Pais trabalham. Entretanto, os filhos das classes sociais mais elevadas têm posses para pagar um ensino de elite: APENAS porque os professores transmitem conhecimentos em vez de perder tempo a educar os alunos...
Ahhh.... que saudades eu tenho de ouvir esta senhora!

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