O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

Rui Zink: «as brincadeiras da linguagem ajudam-nos a pensar»

 
No passado dia 28 de Outubro, no âmbito da conferência «O Prazer de Ler V», Rui Zink proporcionou uma noite de humor e inteligência aos professores e adultos em processo RVCC/Cursos EFA que lotavam a área de conferências da BECRE.


Em boa verdade, durante toda a sua alocação, Rui Zink brincou com as palavras e, desse modo, fez pensar a plateia em torno de questões relacionadas com a linguagem, a palavra falada e a escrita; e o prazer de ler e de escrever.

Para o autor de «Anibaleitor», as palavras servem para «contar histórias, agarrar ideias e expressar os medos» num esforço constante para sermos entendidos: esse é o fim fundamental da linguagem. Em tempos e ritmos diferentes, a palavra falada é mais espontânea mas, também, mais efémera e fugidia; a palavra escrita, mais pausada, ora agarra a palavra falada ora a nega. Portugal é, na sua opinião, um país de extraordinários romancistas e poetas, extremamente habilidosos no domínio das «brincadeiras da linguagem»: a utilização do oxímoro -  figura de pensamento que exprime um paradoxo - é um bom exemplo, sendo o poema de Camões «Amor é fogo que arde sem se ver» um dos casos mais extraordinários.

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.


É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
 
  Luís Vaz de Camões

Para Rui Zink, a fala e a escrita articulam-se de uma forma extraordinária: 
 «quando falamos, perdemo-nos; 
quando escrevemos, encontramo-nos.»

O «Prazer de Ler», para o escritor e professor universitário, é uma «experiência íntima»: no seu caso, lê histórias «para comparar experiências» e  um bom exemplo disso, foi o seu primeiro contacto com «Os irmãos Karamazov» de Fiódor Dostoievski aos dezasseis anos.
Para Rui Zink, a leitura acontece em diferentes graus, em diferentes ritmos e em diferentes tempos. O prazer de ler condensa toda a experiência de estar vivo: «só imaginamos aquilo que conhecemos, só conhecemos aquilo que imaginamos».


Na fase de questões colocadas pela assistência, Rui Zink esclareceu o significado do título do seu livro de 2010, à questão sobre o valor do programa Novas Oportunidades respondeu aos críticos «Digam-me onde é o vosso caixote do lixo» e elencou um conjunto de nomes de escritores que considera muito estimulantes: Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Inês Pedrosa, Hélia Correia, Mário de Carvalho, Alberto Pimenta, José Saramago, Aquilino Ribeiro, José Cardoso Pires, Agustina Bessa-Luís, Eça de Queirós, José Gomes Ferreira, Dinis Machado, Italo Calvino e Milan Kundera, entre outros.

José Fernando Vasco

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