BECRE - ES Cacilhas-Tejo: O Prazer de Ler XII: «José Dias Coelho, a arte e a vida de mãos dadas»

Júlia Coutinho, investigadora da história da arte, sociedade e política portuguesas contemporâneas (anos 40 e 50 do século XX), partilhará a sua visão sobre o percurso de José Dias Coelho no próximo dia 20 de Junho, a partir das 19:30 horas, em «A arte e a vida de mãos dadas». Esse é mote para a décima segunda sessão de «O Prazer de Ler», uma iniciativa conjunta BECRE/CNO de Cacilhas.
Júlia Coutinho foi fundadora do movimento cívico «Não Apaguem a Memória», empenhado na preservação da memória do que foi a repressão da ditadura do Estado Novo e da resistência que lhe foi movida.

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José Dias Coelho em 1954

José Dias Coelho nasceu em 19 de Junho de 1923, em Pinhel, distrito da Guarda. Filho de um Escrivão de Direito, passará a infância entre Pinhel, Coimbra e Castelo Branco, até a família se fixar em Lisboa em 1938. Cedo a família e os professores notam o seu enorme talento artístico. Em 1942, entra para Belas Artes e inscreve-se em Arquitectura mas acaba por reconhecer outra vocação e muda para Escultura, nunca tendo chegado a terminar o curso. Ainda no liceu e em plena Guerra Civil de Espanha (1936-1939), inicia o seu percurso cívico participando na recolha de fundos e géneros para apoio aos presos políticos. Mais tarde, já na Escola de Belas Artes, adere ao PCP e envolve-se na oposição ao regime de Salazar.

José Dias Coelho, segundo Abel Manta

Com o fim da Segunda Grande Guerra, cresce a esperança de uma mudança política em Portugal com o apoio dos aliados. Aproveitando esse momento de euforia geral e de alguma desorientação governamental, a oposição cria o MUD, Movimento de Unidade Democrática, em 1945. José Dias Coelho envolve-se na luta política e será um dos jovens que vai criar, em Julho de 46, o MUD Juvenil. Lutava-se então por Associações de Estudantes democráticas eleitas pelos estudantes e fora das nomeações governamentais. Dias Coelho vai liderar a Comissão do MUD Juvenil na Escola de Belas Artes, iniciando ali um período rico de lutas pelos direitos dos jovens estudantes artísticos. Faz parte da movimentação dos artistas plásticos para colocar a SNBA ao serviço de todos e garantindo um local onde os novos possam expor. Ganham a direcção da SNBA e nascem as Exposições Gerais de Artes Plásticas que duraram de 1946-1956, e que foram o grande salão oposicionista aos do SNI de António Ferro.
Foi preso em Janeiro de 49 na sequência das movimentações da candidatura do General Norton de Matos e, em 1952 foi expulso da Escola de Belas Artes na sequência de um processo académico que envolveu 81 alunos ao mesmo tempo que era demitido de professor de Desenho do ensino técnico. Perseguido pela polícia política acaba por entrar na clandestinidade, em 1955.
É assassinado pela PIDE na Rua da Creche, em Alcântara, em 19 de Dezembro de 1961. Tinha 38 anos.

A morte saiu à rua
(1972)

Letra e música:
José Afonso

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada, há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação