O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

O défice de açúcar

«Tudo isto é triste, e nem sequer é Fado: ao olharmos para a China e para o Brasil como os possíveis garantes da nossa dívida soberana, apenas mostramos que se a UE não acredita em nós, nós também já não esperamos grande coisa dela. Com ou sem pães de açúcar.»
SOBRAL, Fernando (2010). “O défice de açúcar”,
Jornal de negócios, Ano XII, Nº 1901, [Lisboa], 
16 de Dezembro de 2010, p. 44, [coln. 1].

Comentário

Este é sem dúvida a melhor expressão, o melhor retrato do nosso país. Caminhamos dia após dia, mês após mês, ano após ano, século após século e continuamos exactamente com a mesma mentalidade. Se analisarmos bem em quase nada mudámos, continuamos a gastar mais do que temos, usamos e abusamos da nossa “riqueza”, aquela que temos e não temos.
Actualmente, já não importamos açúcar refinado da Holanda, luxo e mania de Portugal desde sempre, hoje passámos para uma versão muito mais moderna o défice e em vês de comprarmos açúcar, pedimos empréstimo sobre empréstimo.
É de facto um aspecto interessante para analisar, pois o problema não só é do Estado mas também de cada português, porque pede um empréstimo para pagar outro [empréstimo] e assim sucessivamente. E se observarmos, acabam por gastar esse valor não para pagar o que deviam, mas para gastar nas suas coisas fúteis e assim acumulam mais uma dívida à que já tinham.

No entanto, os portugueses continuam a manter uma mentalidade de ricos. Segundo Eduardo Lourenço, os portugueses sofrem deste mal há muitos séculos e no seu livro “O Labirinto da Saudade”, publicado no final dos anos setenta, [ele] referia o seguinte: ”somos um povo de pobres com mentalidade de ricos. Se tivesse acrescentado qualquer coisa como “ricos pobres” ou ricos imaginários, teria resumido oitocentos anos de história pátria…”. Curiosamente, passaram apenas trinta anos após a publicação do seu livro e o país contínua na mesma ou pior.
Infelizmente, as gerações vindouras já nascem e vivem neste ciclo vicioso e perigoso, que leva muitas pessoas “à rua da amargura”: continuamos a achar que devemos ter tudo do bom e do melhor e a qualquer custo, independentemente dos problemas que possam surgir. Existem muitas pessoas que deixam de comer, para simplesmente ter uma boa televisão, um telemóvel de última geração e assim sucessivamente. Que futuro terá o nosso país? O que irá suceder às próximas gerações?
Em suma, continuamos e continuaremos a ser um país de “fúteis”, salvo excepções. No entanto, é assim que os portugueses vivem, num país imaginário criado à medida de cada um, num mundo encantado onde tudo é possível, onde vivemos em liberdade. Mantemos esta mentalidade de ricos: [a achar que] podemos ter tudo e fazer tudo sem nunca sermos responsabilizados pelos nossos actos impulsivos e irresponsáveis.
É triste olhar em redor e, por vezes, não ver um caminho que nos guie para a saída, a luz ao fundo do túnel que todos desejamos e assim alcançar um futuro próspero para o nosso país e para a vida de cada português. 
Sofia Nunes
(Aluna da Licenciatura em História
Faculdade de Letras - Universidade de Lisboa)

1 comentário:

Alfredo Silva disse...

Artigo bem escrito... e infelizmente verdadeiro !

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