BECRE - ES Cacilhas-Tejo: «Romance da raposa» de Aquilino Ribeiro

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a partir de 20.01.2011

Na minha memória permanecem a leitura de «O romance da raposa» (1924) de Aquilino Ribeiro, bem como a de um professor primário excepcional.

«O romance da raposa» é um clássico da literatura infantil portuguesa e tem sobrevivido ao tempo porque é, simplesmente, uma obra-prima. A sua perenidade é afirmada por Rui Marques Veloso (2007) do Serviço de Orientação de Leituras da Fundação Calouste Gulbenkian, no texto da série Vida e Obras; quando destaca a «linguagem surpreendentemente irrequieta» («Aquilino Ribeiro», p.2) e revela a verdadeira dimensão de «O romance da raposa»: «a manifestação de um profundo amor à Natureza».

O carácter simultaneamente universal e particular de «O romance da Raposa», de acordo com Maria Laura Bettencourt Pires (2000), inscreve-se numa tradição de autores que recorreram à fábula de fundo didáctico: La Fontaine, Roger L’Estrange, John Gay, William Godwin e Goethe.

No entanto, a Direcção dos Serviços da Censura, em 1957 e na sequência da publicação das «Instruções Oficiais» que visavam «evitar a excitação imoderada das crianças e dos jovens» e imprimir um «cunho nacional» na literatura para crianças; rotulou o «Romance da Raposa» como “não aconselhável” e marginalizou a obra, tal como em relação a outras obras de «autores que não alinhavam em moralidades escusadas [...], tratando a criança-leitor sem infantilismos nem pieguices.»

Tal não impediu que a Fundação Calouste Gulbenkian (1961), no seu Boletim Informativo 3, integrasse a obra de Aquilino Ribeiro no surto de desenvolvimento da literatura infantil em Portugal e num conjunto de obras que procuravam «encantar e, ao mesmo tempo, elevar o espírito das crianças».

O triunfo da liberdade, da inteligência, do humor e da solidariedade sobre a «força bruta» («Aquilino Ribeiro», p.2) conferem à obra uma dimensão ética importante. 86 anos depois da sua publicação, o seu estatuto de obra essencial da literatura infantil portuguesa é confirmado pela sua integração no Plano Nacional de Leitura e nas comemorações do Centenário da República (atelier).

O interesse por «O romance da raposa» ultrapassou diversas gerações: mantém hoje um apelo irresistível que, simultaneamente, proporciona novas leituras da obra de Aquilino Ribeiro. Para além do trabalho nas escolas, testemunhado na blogosfera escolar, a representação teatral, o cinema de animação, os audiobooks, as reedições em suporte papel (incluindo reedições conforme o original, ilustrado por Benjamin Rabier), eventos e ... um perfil no Facebook trouxeram «O romance da raposa» para o século XXI.

Um sério candidato a ser uma das primeiras obras da literatura infantil portuguesa em versão para iPad.