“O Conhecimento será determinante no aproveitamento da conectividade […]
O Conhecimento constituirá o factor-chave na interpretação e no uso da informação […]
O Conhecimento implicará a existência de cidadãos melhor preparados […]
O carácter estratégico do Conhecimento implica que se vá muito mais longe na preparação das pessoas […] durante toda a vida.”
O Conhecimento constituirá o factor-chave na interpretação e no uso da informação […]
O Conhecimento implicará a existência de cidadãos melhor preparados […]
O carácter estratégico do Conhecimento implica que se vá muito mais longe na preparação das pessoas […] durante toda a vida.”
Junqueiro, Raul (2002). A idade do conhecimento. Lisboa: Editorial Notícias, p. 26.
Nos inícios da segunda década do século XXI e após vinte anos de “revolução silenciosa” (Junqueiro: 22), importa continuar a reflectir sobre os fortes impactos da mudança de paradigma que a “revolução digital” trouxe para as sociedades contemporâneas sem que, com tal desiderato, tenhamos uma postura catastrofista ou ilusória perante as tecnologias da informação e da comunicação.
A propósito da discussão em torno de uma oposição entre gerações – a analógica e a digital; entre uma geração de “nativos digitais” que, pretensamente, lidam com as novas tecnologias de forma tão natural como no “acto de respirar”, e uma geração originalmente analógica e que, com menor ou maior dificuldade, tem procurado integrar-se na nova “idade do conhecimento (Junqueiro: 29); torna-se necessário evitar uma postura de menosprezo do problema e, simultaneamente, evitar cair naquilo que David Justino denuncia: o “fascínio pela tecnologia [que] pode rapidamente transformar-se numa ilusão.” (Difícil é educá-los, 2010, p. 83)
Educadores, professores, pais e cidadãos em geral, nascidos nas décadas de 50 e 60 do século XX espantam-se, nos dias de hoje, com algumas demonstrações – ainda que básicas – de competências digitais que as gerações mais novas revelam: espantam-se com o número de “amigos” no MSN ou no Facebook, a rapidez e o número de SMS enviados diariamente pelos “nativos digitais”, as destrezas e a apetências por jogos online e/ou em consolas, etc.
Contudo, estas evidências, se incontestáveis, mais não são do que a superfície de um problema nuclear das sociedades (e da educação) contemporâneas.
Importa, pois, aprofundar a análise para se perceber que a emergência de novas estruturas económicas, políticas, sociais, culturais e, até, mentais, que a globalização e o advento do digital impulsionaram. Trata-se do desafio maior da qualificação humana, num mundo em que produtividade e competição são valores chave para o desenvolvimento.
É precisamente nesta questão que se deve centrar a discussão pré-anunciada no título desta intervenção. Considero que a oposição “nativo digital versus imigrante digital” é uma falsa questão que a simples observação da realidade revela.
Em primeiro lugar, nem todos os que nasceram na década de 90 têm por adquiridas as competências essenciais e estruturantes no que à manipulação das tecnologias da informação e comunicação concerne. Basta observar atentamente os utilizadores-alunos da biblioteca escolar que dirijo para perceber que existem lacunas gerais da sua formação que, claramente, são inibidoras da sua integração bem sucedida na “sociedade do conhecimento”.
Regra geral, a sua utilização das TIC apresenta-se a um nível consideravelmente básico. Navegam na internet para encontrar informação mas revelam dificuldades sérias na sua selecção e avaliação. Utilizam programas de apresentação digital ou de processamento de texto, mas desconhecem no geral como maximizar (em termos de estruturação, estética e eficácia na comunicação) o potencial dessas ferramentas. Usam o SMS, Twitter ou outras ferramentas de comunicação curta e imediata mas, no geral, não se apercebem da existência de “ruído” por eles próprios gerado, em prol da velocidade e imediatismo no próprio acto de comunicar. Adoram jogos online e consolas mas raramente os utilizam em contextos de aprendizagem, sobrepondo-se a estes o lazer puro. Surpreendentemente ou não, não são os principais utilizadores de redes sociais – como o Facebook – conforme estudos recentes em Portugal o demonstraram. E, sobretudo, muitos desses utilizadores-alunos, tal como muitos dos seus professores, ainda não perceberam na sua plenitude que as TIC são ferramentas/instrumentos e não fins em si, ou seja, produtos da “ilusão” perante a tecnologia e o conhecimento: a informação, em múltiplos suportes analógicos e digitais com utilização integrada, deve induzir “a capacidade de produzir nova informação, resultante da elaboração sistemática e racional da primeira” (Justino: 84), isto é, “mais do que aprender a fazer, as aprendizagens têm de orientar-se para o aprender a pensar (Justino: 84), durante toda a vida.
A fraca apetência pela abordagem tecnológica, o receio perante a mudança (é muito mais cómoda a postura sedentária perante a vida e o mundo do que uma postura nómada) e a incompreensão perante todo um novo léxico que a “revolução digital” trouxe para a vida quotidiana; introduziram problemas de integração na sociedade do conhecimento, por parte de gerações mais velhas ou de grupos sociais económica, social e culturalmente desfavorecidos à partida, bem como de muitos e de várias gerações que se deixaram seduzir pela “ilusão” perante a tecnologia.
A info-exclusão é, na minha opinião e em sociedades onde não se queira perder o valor da equidade, o desafio maior da “sociedade do conhecimento”. Aqui, o problema não reside apenas nos resistentes do “mundo analógico” mas, sobretudo, numa nova fase da/de (r)evolução da Humanidade, na necessidade de preparação de cidadãos responsáveis e capazes de exercer a(s) nova(s) cidadanias, muito para além da “busca obsessiva da acção” (Justino: 94)
Por isso, a oposição “nativos digitais versus imigrantes digitais” parece-me brutalmente redutora do problema, bem como me parece uma “ilusão” perigosa a proposta de Prensky em colocar o jogo e o recreativo no centro do complexo e difícil processo de aprendizagem e de formação.
Em boa verdade, a busca da compreensão do alcance das transformações que as sociedades contemporâneas têm vivido – e nelas, o papel da educação – talvez ainda necessite de uma abordagem mais “demorada e sublime” que apenas tempo e investigação permitirão.
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